O primeiro tiro penetra o corpo
dele, o segundo ,o terceiro.....a cada tiro ,uma morte, que deflagra o quanto
desumano um ser humano pode ser , eles se tornam nada, e quem sĂ£o eles? Seres
humanos que na qual o direito de viver Ă© retirado por aqueles que deveriam
proteger , uma proteĂ§Ă£o completamente utĂ³pica , uma policia que Ă© criminosa,
que vĂª o seu cargo como um aval para matar nĂ£o qualquer um , mas um alvo
especifico : Negros, pobres e principalmente “favelados”. E a carne mais fraca
do mercado Ă© a carne negra, a carne que estĂ¡ debruçada na marginalizaĂ§Ă£o criada
pela elite, pelo estado que insiste em nĂ£o proteger, mascarar ,matar. Matar
minha carne negra ,perseguir os negros como se fossem bichos , a humanidade Ă©
completamente renegada e no lugar Ă© imposto uma violĂªncia descarada .Os novos
criminosos se resvalam na sua farda bem passada, andar imposto , porte,
autoridade ,disparam contra famĂlias ,contra pessoas, contra ClĂ¡udia Ferreira
da Silva , contra Amarildo Dias de Souza.
“..Ela jĂ¡ estĂ¡ morta..”
A Cacau foi baleada, levada,
posta num porta malas e arrastada . Cacau tambĂ©m era ClĂ¡udia Ferreira da
Silva,38 anos , carioca, casada, trabalhadora de um hospital na Ă¡rea de
serviços gerais , mĂ£e de quatro filhos e mĂ£e de quatro sobrinhos. Ela que tinha
uma vida pela frente foi violentada, retirada o direito que o prĂ³prio paĂs
afirma zelar tortura- “ Art. 5º, III - ninguĂ©m serĂ¡ submetido a tortura nem a
tratamento desumano ou degradante “
E a Cacau foi baleada no Morro da
Congonha, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro , seu corpo aparentemente
sem vida rolou do porta-malas e, preso por um pedaço de roupa, foi arrastado
pelo asfalto por pelo menos 250 metros sem que os policiais no carro dessem
atenĂ§Ă£o aos apelos de outros motoristas e pedestres. Ela foi tratada como bicho
, e precisa mesmo perguntar o porque de tal tratamento? Creio que nĂ£o, a
afirmaĂ§Ă£o de que o ser negro neste paĂs Ă© a porta de entrada para que todas as
violações do tĂ£o famoso “ direito humano “seja algo recorrente. Um crime que
deveria horrorizar , levar o paĂs ao desespero acabou se tornando mais um ,
como outros tantos que sĂ£o mortos , em que muitas vezes seus corpos desaparecem
como um passe de mĂ¡gica .MĂ¡gica feita por nossos “herĂ³is” ,aqueles que sĂ£o
formados para proteger apenas um lado , o seu lado, e o outro lado, o lado que
mais precisa ,o que fazem? Atiram, atiram sem porque , e acertam inocentes e
para fechar com chave de ouro tal espetĂ¡culo forjam provas e depois negam
descaradamente para mĂdia ,que como mĂdia sensacionalista esconde este caso,
esquece...esquece a nossa Cacau .
E a mĂdia ressurge dessa vez como
heroĂna , e foi a ela junto com a força de uma famĂlia que um caso se tornou
sĂmbolo de violaĂ§Ă£o dos direitos humanos no Brasil , o caso que ao ver o show
de Marisa Monte e Caetano Velozo chamado Somos Todos Amarildo me faz pensar no
ser humano que se foi e cadĂª ?Amarildo, cadĂª tu, Amarildo? Todos te gritam, te
chamam, mas nada de vocĂª, Amarildo. Onde estĂ¡ teu corpo? O que fizeram com tua
carne? Em que vala te jogaram, Amarildo? Responde, Amarildo.
O Amarildo Dias de Souza sumiu
apĂ³s ser levado por policiais militares para ser interrogado na sede da Unidade
de PolĂcia Pacificadora durante a "OperaĂ§Ă£o Paz Armada", de combate
ao trĂ¡fico na comunidade, entre os dias 13 e 14 de julho de 2013. Onde estĂ¡?
Ninguém sabe, ninguém viu, o que se sabe que este ajudante de pedreiro
desapareceu feito pĂ³, entrou num buraco e sumiu. Um sumir comum para este paĂs
DESUMANO, um sumir que nĂ£o faz falta nĂ£o Ă© mesmo? Um sumir de muitos Amarildos
, de trabalhadores e também de pessoas que sim tinham envolvimento com crimes,
mas isso Ă© motivo para sumirem feito pĂ³? E pior sumirem pelas mĂ£os de
policiais?
E a operaĂ§Ă£o paz armada trouxe
uma verdade para mim muito mais clara, lembro me bem desse caso e o quanto foi
repercutido e pensar que no lugar do Amarildo poderia ser um pai , um tio ,um
amor ,pensar nisso Ă© desesperador ,pensar na dor da famĂlia desse homem honesto
que vivia pela e para a famĂlia, que foi assassinado por bandidos de farda, por
pessoas sem um pingo respeito ,que desonram a imagem de um paĂs que jĂ¡ estĂ¡ na
lama ,que foi construĂdo com a violĂªncia ,que a ensina ,que a idolatra e que no
fim sĂ³ deixa a pergunta : CadĂª? Responda. Clame. Grita. Fale mais alto. Rasge
esse peito. Solte essa voz sufocada. NĂ£o tĂ´ te ouvindo. CadĂª tu, Amarildo? CadĂª
a justiça pela Cacau? Em nome de quem a constituiĂ§Ă£o os julgaram?
“Todos sĂ£o iguais perante a lei e
tĂªm direito, sem qualquer distinĂ§Ă£o, a igual proteĂ§Ă£o da lei. Todos tĂªm direito
a igual proteĂ§Ă£o contra qualquer discriminaĂ§Ă£o que viole a presente DeclaraĂ§Ă£o
e contra qualquer incitamento a tal discriminaĂ§Ă£o.”